Casal de seguranças é executado a tiros em Guarapuava: caminhoneiro é condenado a 27 anos de prisão
Guarapuava (PR) – Atualização em 08 de novembro de 2025
O caso que chocou o Paraná em março de 2024 chegou a uma conclusão no Tribunal do Júri: o caminhoneiro Rodrigo Neumann Pires, de 45 anos, conhecido pelos apelidos "Vermeio" ou "Parça 10", foi sentenciado a **27 anos e 6 meses de prisão em regime fechado** por duplo homicídio qualificado. O julgamento, realizado no dia 4 de novembro de 2025 no Fórum Desembargador Guarita Cartaxo, em Guarapuava, durou cerca de 12 horas e envolveu intensos debates entre acusação e defesa. Presidido pelo juiz Mário Trindade Dantas, o Conselho de Sentença – composto por quatro mulheres e três homens – reconheceu parcialmente as teses apresentadas, resultando em uma pena considerada elevada pela defesa, que já anunciou recurso.
O Crime que Abalou a Cidade
Na madrugada de 23 de março de 2024, por volta das 5h, uma loja de conveniência no bairro Conradinho (também conhecido como Xarquinho ou bairro dos Xarquinhos) virou cenário de uma tragédia filmada por câmeras de segurança. As vítimas foram o casal de vigilantes Vanderlei Antônio de Lima, de 31 anos, e Edinéia Gonçalves de Oliveira (ou Edinéia Capote de Oliveira Gonçalves), de 32 anos. Casados há sete anos, eles haviam sido contratados para trabalhar naquela noite como seguranças do estabelecimento, recebendo cerca de R$ 120 cada pelo serviço. O casal deixava quatro filhos órfãos: uma menina de 12 anos, outra de 4 anos e gêmeos de apenas 1 ano na época (atualmente com cerca de 2 anos e 8 meses).
Tudo começou com uma discussão banal. Rodrigo Neumann Pires, cliente do local, estava causando confusão – relatos apontam que ele estava embriagado, possivelmente sob efeito de drogas, e foi advertido por não consumir ou por perturbar outros frequentadores. Vídeos anexados ao inquérito policial mostram o momento em que Vanderlei e Edinéia intervêm: há agressões físicas, incluindo cotoveladas, chutes no rosto e tapas desferidos principalmente por Vanderlei contra Rodrigo, que é expulso do estabelecimento.
Humilhado e furioso, Rodrigo saiu do local, dirigiu até sua residência, pegou um revólver calibre .38 e retornou cerca de uma hora depois. As câmeras registraram o ataque implacável: ele se aproxima caminhando calmamente, dispara várias vezes à queima-roupa contra o casal, que tenta se abrigar dentro da loja. Edinéia é atingida primeiro, com tiros no tórax que causam traumatismo cardíaco – ela cai sobre mesas de sinuca e morre no local. Vanderlei tenta reagir com um cassetete e se arrasta para trás de uma mesa, mas é baleado no tórax, sofrendo traumatismo hepático. Socorrido pelo Samu, ele é levado em estado grave ao hospital, mas não resiste e falece durante o atendimento.
Rodrigo foge em seu veículo, mas envia áudios a amigos confessando o crime e justificando as agressões sofridas: "Eles me bateram, me humilharam, eu voltei e matei". Horas depois, no início da tarde, a Polícia Militar o localiza escondido em uma área rural de Guabirotuba (ou Guabiroba), onde é preso em flagrante. Desde então, ele permanece detido preventivamente.
A Investigação e o Processo Judicial
A Polícia Civil indiciou Rodrigo por duplo homicídio qualificado (motivo fútil, recurso que dificultou a defesa das vítimas e perigo comum) e tentativa de homicídio contra um terceiro segurança (um tiro foi disparado para o chão). O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou-o, mas excluiu a tentativa de homicídio na acusação final. A Justiça aceitou a denúncia em abril de 2024, tornando-o réu e negando pedidos de liberdade provisória.
No interrogatório durante o júri, Rodrigo admitiu os tiros, alegando que agiu "com muita raiva" devido às agressões prévias. A promotoria defendeu as qualificadoras de motivo fútil (vingança por briga trivial) e perigo comum (tiros em local público). A defesa, liderada pelo advogado Miguel Nicolau Júnior, argumentou legítima defesa putativa ou excesso por emoção violenta, apresentando vídeos das agressões sofridas pelo réu e questionando o "elemento surpresa" – alegando que Rodrigo teria avisado as vítimas ao retornar.
O Julgamento e a Sentença
O Tribunal do Júri ouviu 10 testemunhas (cinco de acusação e cinco de defesa) ao longo do dia 4 de novembro. Os jurados rejeitaram as qualificadoras de motivo fútil e perigo comum, mas mantiveram o **recurso que dificultou a defesa das vítimas** (ataque surpresa, sem chance de reação efetiva). Reconheceram o **homicídio privilegiado** – quando o crime é cometido sob domínio de violenta emoção ou por relevante valor moral/social –, o que reduziu a pena base.
A sentença final: aproximadamente 13 anos e 9 meses por cada vítima, totalizando **27 anos e 6 meses em regime fechado**. Além disso, Rodrigo foi condenado a pagar indenização mínima de **R$ 50 mil por vítima** como reparação pelos danos morais e materiais causados à família.
Os assistentes de acusação, Jean Campos e Laís Vieira, celebraram: "A justiça prevaleceu. Embora a pena tenha sido reduzida pelo privilégio, o veredicto representa uma resposta firme à violência e mostra que a sociedade não tolera impunidade". Já a defesa classificou a pena como "desproporcional" e vai recorrer ao Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), argumentando que o aviso prévio descaracteriza a qualificadora mantida e pedindo nova redução.
Polarização Social e Impacto na Comunidade
O caso gerou intensa divisão em Guarapuava. No dia do júri, o fórum foi tomado por manifestações: familiares e amigos das vítimas exibiam faixas pedindo "justiça por Vanderlei e Edinéia", com comoção visível – a mãe de Rodrigo chegou a passar mal durante o julgamento. Nas redes sociais, comentários anônimos (inclusive de perfis femininos) apoiavam o réu, refletindo debates sobre "legítima defesa" versus "vingança armada" e expondo questões de machismo e violência em ambientes noturnos.
Acadêmicos de Direito lotaram o local, transformando o júri em aula prática sobre o sistema penal. O crime destacou problemas como o fácil acesso a armas de fogo, agressões em bares e conveniências, e o impacto em famílias vulneráveis – os quatro filhos do casal agora dependem de parentes para criação.
Até o momento, não há atualizações sobre o recurso interposto pela defesa, que pode ser julgado nos próximos meses pelo TJ-PR. Rodrigo segue cumprindo pena em unidade prisional, com execução imediata da sentença devido à soberania dos veredictos do Júri Popular. O caso serve como alerta: uma briga trivial escalou para uma tragédia irreparável, deixando órfãos e uma cidade marcada pela violência. Qualquer novo desenvolvimento será acompanhado de perto.











13 anos por cada vítima é muito pouco.
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